Nostalgia
Poxa, mas que tempo bosta que a gente vive.
Não sei você leitore, mas eu sinto um asco incomparável pelo tempo que vivemos. É um enorme azar ser um brasileiro médio neste momento. Não dá pra querer viver o presente. Não interessa o que a antiga música tema do Matt Hardy ou qualquer coisa igualmente espalhafatosa que repita o clichê de viver no presente tenha a dizer. Carpe diem é uma frase que faz sentido apenas quando seu diem não tá pegando ignis.
Quando não se tem o presente, o que lhe resta? Bem, duas opções igualmente fictícias na linha do tempo-espaço: passado e futuro. O futuro não tem como saber como vai ser. E nem o mais otimista com o mínimo de racionalidade pode acreditar que vai melhorar antes de piorar muito, do jeito que o Brasil está. (A não ser que você seja um negacionista que acredita que tudo vai bem.)
Eu sou Historiador. Mas nem é por isso que eu escolho o passado.
A faculdade me ensinou a detestar o clichê de Historia magistra vitae, ou a noção de que o passado de alguma maneira pode nos preparar para o que vem pela frente. Historiador não é cartomante. A gente estuda História para vários fins — compreender melhor algum objeto de estudo, inclusive em suas repercussões no presente, ou então simples curiosidade científica — , mas melhorar o futuro não é, necessariamente, um deles.
Por conta disso, não é a História a quem me apego para passar esse tempo tenebroso que algum novo historiador daqui a 30 anos vai estudar, estupefato (se durarmos tanto assim). Eu me apego, sim, ao passado. E se você leu o título do texto, sabe que quero chegar, especificamente, à nostalgia.
A nostalgia não é um sentimento novo, trazido à tona apenas por circunstâncias catastróficas. Entretanto, existe novidade na nostalgia que sinto — e me apego — hoje. E devo admitir que existe um certo compasso com a “História, mestra da vida” que detesto, com uma ressalva importante: não é que o passado me ensina a construir um futuro, e sim que ele tem se tornado um combustível pra aturar esse presente PÉSSIMO em que a gente se enfiou. De certa maneira, agora eu me encontro entre a magistra vitae e um carpe diem às avessas; poderia resumir como “aguenta essa merda aí, até as coisas melhorarem como eram antes”.
Numa veia mais positiva, eu posso me considerar minimamente sortudo neste aspecto; eu tenho vários momentos bons no meu passado, o bastante pra ser capaz de sentir nostalgia. Olhar para o passado com óculos cor-de-rosa de nada adianta se antes de chegar no fogo você estava na frigideira.
Este é o parágrafo final de um texto inconclusivo, escrito por meio de um sentimento igualmente inconcluso. Não vai ser um processo rápido até a recuperação do nosso país. E, como tudo, é preciso moderação na nostalgia. Sob risco de aparentar contradição, preciso observar: não é saudável ficar preso no passado. Fazê-lo é assumir o risco de se viciar e deixar de efetivamente viver. Deve ter um episódio de Black Mirror sobre isso.
É, não existe maneira fácil de seguir em frente, mas… sigamos.
P.S.: Muito obrigado para você que leu o texto até aqui. Outro agradecimento: uma música ainda não lançada do meu amigo Bruno Seitras serviu de trilha sonora para a escrita desse texto, acompanhem o trampo dele se ainda não o fazem. Valeu, Bruno, você é top.